
A minha apresentação fica por conta de uma situação que eu vivo há exatamente 21 anos. Ou seja, desde que esta deusa aqui nasceu. Eu explico: cresci ouvindo a história de que meus pais se casaram por uma grande paixão e nada iria separá-los e blá blá blá pônei lilás. Só que a gata aqui sabe que minha mãe casou grávida. Sim, buemba!, buemba! Minha mãe não é exatamente uma pessoa carinhosa e sensata. Ela já deixou de me das parabéns nos meus 18 anos pq acordou azeda. Já me humilhou à toa (e isso acontece pelo menos dia sim e dia não); já me ofendeu com nomes que não se falaria a um filho e faz exatamente o contrário com a minha irmã. É mais ou menos assim, se eu bebo um gole de pinga eu sou a cachaceira. Se minha irmã bebe, ela é a garota responsável que sabe beber, ai que linda, bebê fofo da mamãe!
E acho que toda esta diferença vem lá da barriga dela. É que ela sempre deixou claro que eu acabei com a vida dela, mesmo sem explicar o pq. Sempre fui cobrada como se eu devesse algo pra ela. Destrui a vida da minha mãe e nem tive a menor culpa. Hoje o sentimento que eu tenho dela é de uma pessoa desequilibrada, que não pode me ver feliz. Eu tenho medo de ostentar um sorriso na minha casa pq a qualquer hora ela pode se estressar com este mesmo sorriso, ligar pro meu pai e dizer que eu sou malcriada, que sou uma leviana e que estou de castigo. Sim, pasmem. Minha vida segue deste forma há 21 anos.
Você se imagina gastando r$ 100 nos dias das mães para sua mãe pegar o presente, torcer o nariz, falar "só isso" e virar as costas? Engraçado...
Aprender a sexualidade sozinha, a escolha da profissão, a cozinhar, a passar roupa... Meu Deus, pequenas coisas me fariam tão diferente.
Pior de tudo é que ela, quando estamos em família, finge ser oq não é. Vem, abraça, pede pra ir junto ao balcão pegar salgados e tudo mais. Antes eu caia, acompanhava, afinal de contas era minha chance de uma pequena demonstração de afeto daquela que me pariu. Lamentável.
Hoje eu digo com a maior dor no peito que eu já não tenho sentimento de uma filha por uma mãe. Não tenho mais medo de magoá-la e, sim, se pra ela isso é ser egoísta, eu sou. Penso em mim e na minha vida, já que nem com meu pai eu posso contar. Ele não entende pelo que passo e todas as vezes que tentei conversar e desabafar eu virei a fraca, a filha dele que tem frescuras. Diálogo nunca foi o forte da minha casa. Educação aqui é ter comida na mesa e pagar colégio. Isso é ser um bom pai. Quantas vezes não ouvi que "você vai ter tudo oq eu não tive". Dispenso, obrigada.
E é por isso que eu me apego tanto aos meus amigos e ao meu amor. Pq não tem nada mais gostoso do que poder amar alguém. Mãe, de todos os carinhos que você me nega, o que mais me dói é aquele que não posso te dar. Mas obrigada. Hoje eu sei o valor de uma amizade e de um companheiro. Você, enfim, ainda me deu algo de bom.
Quem sou eu?
Alguém que sabe ser feliz hoje. Mas que ainda tem o peso desta relação nas costas.